“A solidão não significa a ausência de pessoas à nossa volta, mas sim o fato de não podermos comunicar-lhes as coisas que julgamos importantes, ou mostrar-lhes o valor de pensamentos que lhe parecem improváveis” (JUNG)
Primeiramente gostaria de escrever o porquê escolhi este tema, como tudo na psicologia tem um símbolo e um motivo para nossas escolhas, esta frase não é por acaso, pois o assunto “Solidão” é um tema que está em evidencia na minha vida pessoal e profissional. Neste momento, estou mergulhando no meu inconsciente, que nada mais é se recolher. E na clínica tenho percebido que é uns dos temas mais freqüente dos meus pacientes, talvez seja sincronicidade, transferência, ou seja, lá o nome que podemos conceituar, é um momento muito significativo.
Está frase me remete ao conceito de individuação, “tornar-se um consigo mesmo, e ao mesmo tempo com a humanidade toda” (JUNG). Acredito sim que para realizar este processo, o individuo precise vivenciar a solidão, se recolher e entrar em contato consigo, mas não necessariamente se isolar das pessoas, do mundo ou se tornar-se anti-social. È necessário estar na relação com mundo, mas também na relação com si – mesmo, olhar para fora e ao mesmo tempo para dentro, é tentar realizar uma ponte entre o self e o ego, ou seja, é tentar integrar aquilo que não gosto ou não aceito em mim, me reconhecendo como uma totalidade.
Mas para que isto aconteça, tem que se conhecer, porém voltar o olhar para dentro não é uma tarefa fácil e sim um trabalho árduo e longo, que se inicia na infância e só termina na velhice, ou muitas vezes só com a morte. A análise é uma ferramenta para que este processo de um start ou então um up, mas isto não que dizer a individuação não acontece fora dos nossos consultórios, pois é algo da natureza da nossa psique.
Estar só em relação a si, é suportar o vazio, a angustia, é vivenciar a dor. Mas como este processo é doloroso e as pessoas cobram que o individuo seja socialmente ativo, onde ficar triste é considerado doença e precisamos tomar “pílulas da felicidade”, parece que sentar na varanda olhar para grama do vizinho é muito mais cômodo e não gera sofrimento, porém não floresce autoconhecimento.
Nesta mesma perspectiva, eu gostaria de relatar a capa de uma revista que visualizei com a seguinte chamada “Posto, logo existo” no qual me trouxe reflexão sobre a necessidade ser visto por uma persona que criamos nas redes sociais, pois se posto algo e o outro nos acha belo, nos sentimos bonitos. Se o outro nos enxerga como inteligente, nos certificamos de que somos inteligentes, ou seja, na tentativa de adquirir uma identidade sonhada, acabamos ficando a sensação de que não possuímos identidade alguma. E quando trouxe o tema solidão, me refiro nesta construção de identidade que deve ser realizada não só nesta relação com o mundo, mas na relação consigo. Não quero dizer devemos abandonar as redes sociais, ou que elas sejam apenas maléficas, mas fez-me perceber o quão os excessos cometidos no espaço virtual podem nos distanciar de nós mesmos, me fez repensar o uso que faço das redes. Apesar da correria diária neste mundo globalizado onde as informações correm numa velocidade difícil de ser acompanhado, apesar do medo, da insegurança, o homem precisa (re) aprender a sentir e a vivenciar tanto os momentos de isolamento como também os relacionamentos, assumindo riscos e desafios, ou seja, realizar o encontro com o outro e o encontro consigo mesmo.
No ponto de vista da Filosofia o ser humano nasce só, sua dor e prazer ele os tem dentro do seu ser, e finalmente morre só. O filósofo alemão Martin Heidegger afirma que “estar só é a condição original de todo ser humano”, que cada um de nós é só no mundo e como se o nascimento fosse uma espécie de lançamento da pessoa à sua própria sorte. Para filosofia o homem se torna autêntico quando aceita a solidão como o preço da sua própria liberdade e se torna inautêntico quando interpreta a solidão como abandono, com isso abre mão de sua própria existência, tornando-se um estranho para si mesmo, colocando-se a serviço dos outros e diluindo-se no impessoal. Olhando deste ponto de vista, parece um pouco duro com o ser humano, mas acredito que objetivo da filosofia é transformar a solidão em aliada de nossa realização. Pois a solidão é um estado de consciência no qual nos voltamos para nós mesmos e analisamos nossa vida, nossas relações, sem o peso da culpa, numa análise não crítica, sem julgamentos, num movimento de reflexão sobre o que fizemos e as conseqüências de nossas ações.
Também acho importante colocar em questão, quando a solidão se torna patológica e não um processo de autoconhecimento, eu acredito que a solidão torna-se patológica quando o individuo se desconecta das pessoas, e desta forma ele também acaba não se conhecendo. Isto acontece quando as pessoas mantêm relacionamentos superficiais e insatisfatórios, quando não há trocas, quando a pessoa se sente alienada, com o sentimento rejeição, inferioridade e sentimento de não pertencimento causando um sofrimento mental e psíquico.
Por fim, eu gostaria de concluir relatando que este texto foi de extrema importância para mim, devida primeiramente poder relacionar com a minha vivência clínica e experiência de vida com a teoria analítica. Porém foi difícil, pois além de ter que refletir sobre este tema, fazer a construção de idéias e colocar na forma de escrita é algo que estou em desenvolvimento, apesar de me identificar com esta idéia. Em relação ao tema, não acho tão fácil assim de colocar em prática todos estes conceitos e pontos de vistas de forma tão imediata, realmente eu acredito que processo de autoconhecimento/ individuação perdure por muitos anos e se necessário com alguns intervalos de tempo.
A solidão deveria ser vista como um fortalecimento do ser, mas para o senso comum ela ainda é vista de forma negativa e é muito difícil convencer a as pessoas que recolher-se é tão importante quanto viver em sociedade. Conseguir conviver com esse sofrimento e ampliar a consciência que temos de nós mesmos é muito recompensador, mas ainda é reservado aos mais guerreiros e corajosos.